Concurso Largo Dois de Julho

Concurso Largo Dois de Julho

A presente proposta foi elaborada para Concurso Público Nacional de intervenção urbana e arquitetônica para o Largo Dois de Julho e Adjacências em Salvador, Bahia. Lugar que concentra complexidades, contradições, dinâmicas de usos e ocupações que lhe confere identidade, desenho forte e marcante, recluso no tecido urbano da cidade.

As contradições presentes na poligonal do concurso foram evidenciadas por diferenciações perceptíveis no território: tem-se uma Praça, formada por edificações de pequeno porte, com remanescentes do século XIX, e um Largo cercado por edifícios de grande porte, construídos nas últimas décadas; tem-se uma Praça clara, ensolarada, e um Largo escuro, sombreado pelos altos edifícios; tem-se um Largo e uma Praça que não condizem com os seus significados, porque pessoas passam e carros estacionam; tem-se o dia movimentado, para os múltiplos usos, e a noite marginal, para as diversas formas de expressividade; ao mesmo tempo em que tudo se perde e se confunde, não podendo ser distinguido Praça de Largo.

Dentro da poligonal apontada pelo concurso, identificamos três áreas de análise: o Mocambinho, o Largo Dois de Julho e Praça Inocêncio Galvão, e o Belvedere, trecho encravado na falha geológica, entre a Rua Visconde de Mauá e a Av. Contorno, incluído pela nossa equipe por entendermos ser uma continuação do seu desenho natural.

O projeto de intervenção urbana e arquitetônica leva em consideração características pautadas numa análise de opostos que expressam fluidez, ritmo e continuidade entre os espaços que compõem a área. A idéia consiste na criação de uma lâmina em concreto protendido, que se apóia ora na topografia, ora em pilares de aço quando descolada do solo, de acordo com o movimento do seu desenho.

A lâmina funciona como um elemento de continuidade entre os dois espaços polarizados: a Praça e o Largo, apesar de manter esta continuidade entre os espaços, ela assume características diferenciadas ao percorrê-los. No seu percurso, ela permite a permanência das especificidades de cada pólo, assumindo um partido arquitetônico em contraposição à característica dominante com relação aos mesmos: monumental onde a escala é mais reduzida, e reduzida onde a escala é mais monumental; Na sua sutil variabilidade de planos (apoiados e suspensos) a lâmina cria uma nova forma de uso do espaço público e uma nova dimensão de percepção do lugar.

No Mocambinho, o projeto prevê o esvaziamento interno do quarteirão, recuperando uma tipologia de ocupação que remete ao modelo de distribuição espacial próprio de seu período de formação. Este grande pátio interno reforça o uso comercial no perímetro externo.

Para o Largo Dois de Julho e na Praça Inocêncio Galvão, o conflito entre carros e pedestres é solucionado com a instalação de três níveis de estacionamento subterrâneo. Assim, recupera-se os significados de Largo e Praça para o espaço público, respeitando sua dinâmica, ampliando as possibilidades de utilização dessas áreas.

No Belvedere, trecho encravado na falha geológica, entre a Rua Visconde de Mauá e a Av. Contorno, entendemos que esta área é uma extensão natural dos percursos e fendas geridos pela própria topografia, onde o transeunte é levado pelo desenho, pelo ritmo do lugar, pela fluidez das linhas até a ponta que mostra a Baía numa surpresa.

Também foram propostas intervenções no sistema viário com o bloqueio dos acessos da Rua da Forca para o Largo Dois de Julho, propondo um novo acesso que virá a ser dado através de uma adequação da passagem entre as duas maiores torres situadas numa das extremidades do Largo. Da mesma maneira, priorizando o pedestre, foi pensado a abertura da Ladeira de Santa Teresa, a mesma que deverá ser feito um tratamento na pavimentação, afim de criar um maior atrito de aderência devido à sua forte inclinação.

FICHA TÉCNICA

Ano: 2001
Localização: Dois de Julho – Salvador/Bahia
Coord. Geográfica: 12°58’53.8″S 38°30’59.0″W (ver no google)
Status: Não Construído
Autores: Adriano Mascarenhas, Thales Barnuevo e Marcus Vinícius Dias
Const. e Estrutura: Murillo Miranda
Imagens: Acervo Sotero Arquitetura